IORUBÁS E PENTECOSTAIS
O nome “iorubás” aplica-se a um conjunto de povos oeste-africanos, localizados principalmente entre os rios Oiá (Níger) e Ogum, falantes de uma língua comum, o iorubá, irradiada a partir da antiga cidade de Oió, e suas variantes dialetais. Do ponto de vista de sua influência na cultura brasileira, os principais dentre esses povos, além dos originários de Oió, são os os efãs, de Ifón; os eubás (egbá), de Abeocutá e arredores; os ijebus (de Ijebu-ode; os ijexás, de Ilexá; os quetos, de Queto etc. Até o século 18, os iorubás não constituíam uma comunidade de povos, como um reino ou um estado. Circunstâncias históricas, entretanto, notadamente no sentido de defesa, fizeram com que esses povos fossem se aproximando. E isto ocorreu a partir da identificação de um ancestral comum, Odudua, fundador da importante cidade de Ilê Ifé, entre os século 9 e 10 da Era Cristã, após sucessivas migrações que tiveram como ponto de partida, provavelmente, a região dos Grandes Lagos africanos, na fronteira contemporânea do antigo Zaire (hoje Rep. Democrática do Congo) com os atuais Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia. Depois de fundar Ilê Ifé, Odudua fez, de vários de seus descendentes, desbravadores e fundadores de cidades e reinos. Oraniã, seu filho, fundou Oió, a norte de Ifé; Xangô, filho de Oraniã, foi o terceiro rei (alàfin, senhor do palácio) de Oió; Ogum fundou Irê, onde reinou etc. Tudo isso num ambiente em que até hoje correm, menos ou mais caudalosas, as águas dos rios Oiá, Oxum, Ogum; da cachoeira Erin Ijexá. E onde são realizados alegres festivais anuais como os de Egungum, Orô, Iemanjá e Obatalá. Observe o leitor que não estamos falando apenas de passado. E não só de mitologia mas também de História, como se folheássemos as páginas do Antigo Testamento, onde se relatam tanto eventos edificantes e miraculosos quanto atos condenáveis, como assassinatos, roubos, adultérios, estupros... coisas da natureza humana, independentes de “raça”, credo ou cor. E escrevemos este texto baseados na leitura de autores insuspeitos como Alan Merriam, Basil Davidson, Geoffrey Parrinder , Alberto da Costa e Silva etc, relembrados em um alentado artigo do doutor em História pela UnB, Anderson Ribeiro Oliva -- in Estudos Afro-asiáticos, Rio, CEAA, nº 1-3, dez.2005, págs. 141-179. Esse artigo, vejam, é assim finalizado pelo autor: “A África nos reserva um poderoso campo de pesquisa e entendimento da História da Humanidade. Dessa forma, devemos estabelecer um outro eixo para nossos estudos, que passe necessariamente pelo continente africano (...). E que as histórias de Odudua, Obatalá, Exu e Olorum nos soem tão familiares como as de Netuno, Vênus, Mercúrio e Zeus, ou, para ser menos radical (ou não), como as de Cabral ou do Infante Dom Henrique”. Imaginem, então, leitores, o triunfo do fundamentalismo pentecostal no Brasil, como histéricas trombetas já apregoam, aqui pelas vizinhanças do Lote! Todo esse importante conhecimento pode ir parar numa grande fogueira, leitores! A não ser que Orumilá, com Sua sabedoria (e nosso voto) impeça o triunfo da ignorância e do obscurantismo.
Texto de Nei Lopes
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