segunda-feira, 16 de junho de 2008

Luiz Fernando Verissimo adere à lógica (i)moral do AI-5

Luis Fernando Verissimo começou a sua carreira como humorista. E terminou também. Antes, era graça voluntária. Agora, ele só é um clown do lulismo, um bobo da corte. No Globo de domingo, o gênio descobriu o responsável pelo caos aéreo no Brasil: é o liberalismo. Sim, vocês leram direito. Segundo Verissimo, se a Varig tivesse sido salva pelo governo, tudo seria diferente. Para ele, a raiz da crise aérea está no fato de que as duas empresas sobreviventes — TAM e Gol — não conseguiram absorver a demanda antes suprida também pela Varig, um “modelo” para a aviação.À crítica de que injetar dinheiro na Varig seria apostar no capitalismo sem risco, Veríssimo dá uma resposta desavergonhada: valia “mais a prudência do que os pruridos”, ele sustenta, lema que certamente um Stálin endossaria. Aliás, vejam vocês. Pesa na história do muito inteligente Jarbas Passarinho uma frase terrível no dia da decretação do AI-5. Dirigindo-se ao presidente Costa e Silva, em dezembro de 1968, falou: “Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim e a todos os membros desse Conselho, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples, mas me parece que claramente é esta que está diante de nós. [...] Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”. Gosto de Passarinho e o considero um homem inteligentíssimo e um grande papo. Mas jamais justificaria a sua frase. Verissimo justifica. Ele, como a gente sabe, acha que, sob certas circunstâncias, ficar com os “pruridos” é negar a “prudência”. Em nome da prudência, sem pruridos, fez-se o AI-5. Ou será que a fórmula do Velhinho de Taubaté vale apenas para esquerdistas?Nem uma linhazinha para o descalabro que era a Fundação Ruben Berta, transformada num cartório e num sorvedouro de dinheiro público. A Varig foi uma das empresas que mais privilégios tiveram no Brasil. Afundou-se na má gestão. Acabou dando um beiço na previdência dos funcionários. Estivesse funcionando a todo vapor, não seria melhor a infra-estrutura aeroportuária brasileira. A ânsia de Veríssimo para tirar dos ombros do governo a crise é grande. Desta feita, ele não pode recorrer a seu vício: atacar FHC. Mas também não será Lula a sobrar com o pepino da crise. Logo, culpe-se o liberalismo.Trata-se de uma das maiores bobagens que li na imprensa nos últimos anos. Na semana passada, vejam no arquivo, já apontei o seu, como direi?, stalinismo visceral. Mas, ainda ali, vá lá, ele nada mais fazia do que outros de sua estirpe já fizeram. É um homem do agitprop: faz agitação e propaganda para o petismo. Mas nem eu contava que pudesse alcançar tal estupidez.Por que falo dele? Porque escreve no Globo, um dos maiores jornais do país. E é lido pela classe média que ele tanto odeia, que ele tanto despreza.
Texto de Reinaldo Azevedo - Blog veja.abril.com.br

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